terça-feira, janeiro 25, 2005

Relatório da REUNIÃO DE PESQUISA E PATROMÔNIO 12/01

Relatório da REUNIÃO DE PESQUISA E PATROMÔNIO


No dia 12 de janeiro de 2005 reuniram-se:


Gereba, Herci, Célia e Celma, Itamar, Kátia e Valéria.



A reunião pautou-se muito mais por uma reapresentação dos participantes (já que tivemos vários novos integrantes) e pela leitura e conhecimento do relatório anterior.



Alguns pontos



1. Na questão do LEVANTAMENTO DE DADOS E PESQUISAS – Recolocamos o perigo dos preconceitos, o que levam a pesquisa de campo ou catalogação de informações já se dar de forma engessada. O Itamar citou o exemplo da Missão de Pesquisas Folclóricas(1938) idealizada por Mário de Andrade, acompanhadas e gravados por um músico - Martin Braunwieser - e, posteriormente, transcritos por outro, que apenas teve acesso ao registro sonoro. Segundo o trabalho de doutorado Álvaro Carlini (PR) isso gerou uma série de distorções e “engessamento” de determinados eventos musicais acabam se perdendo passam por essa transcrição a frio.



Também nesse sentido, Kátia, Celma e Célia colocaram que o registro não pode ser restrito apenas ao escrito. Existem registros verbais e mesmo registros que figuram na memória popular. Foi citado exemplo de que bastavam algumas sílabas de músicas tradicionais para que mulheres ligadas à tradição do canto de lavadeiras lembrassem da totalidade das obras. Ou seja, o registro em partitura deveria estar no mesmo pé que o registro silábico em diversas atividades.



Temos que saber ler e escrever tais tradições. O processo sonoro e sensível não tem que, necessariamente, passar pelo processo de alfabetização. A música tem uma característica mnemônica que lhe é peculiar, assim como a transmissão da memória verbal não registrada.



2. Direito Autoral e ECAD – Além dos já conhecidos problemas com o ECAD (já abordados por outros grupos e reuniões anteriores) foi muito bem lembrado um problema que nos atinge de frente: a taxação de FESTAS POPULARES (quadrilhas, sapateados, vaquejadas, etc). Mesmo que as músicas sejam de domínio da comunidade. Alertamos para a necessidade de que a entidade ABDIQUE DESSES DIREITOS AUTORAIS, sob pena de, ao não faze-lo, condenem ao esquecimento uma série de tradições.



3. Editoras – Novamente lembrado o problema com as editoras. Uma música, quando editada, passa a ter o direito autoral revertido ao editor. E uma prática comum é a edição LIMITADA de obras, apenas para que constem no registro da Biblioteca Nacional, e passe a representar posse nos direitos sobre ela. Vale lembrar que a publicação limitada convive lado a lado com a falta crônica de partituras e material de pesquisa.



4. Fundo de Cultura – Reafirmamos a necessidade de um FUNDO NACIONAL DE CULTURA, sob domínio público, ou seja, exercido pelo executivo e sociedade civil organizada, para complementar (ou ser mesmo o receptor) das leis de incentivos fiscais. O grupo considera essa a menos distorcida forma de repassar recursos pois se dá diretamente entre o artista e o poder público, eliminando do processo uma série de intermediários e empresas que, ao destinarem parte de seus impostos para a criação cultural, controla esse fluxo de dinheiro por seus próprios interesses. Concluímos que não existe contradição entre isso e a LEI DE INCENTIVOS FISCAIS, pois são formas complementares (e não excludentes) de fomento público.

Além disso, reafirmamos a NECESSIDADE URGENTE DE AUMENTO NA DOTAÇÃO DE VERBAS PARA A CULTURA. Atualmente contamos com 0,6% do orçamento da união. O grupo propõe que esse valor aumente para 2%.



5. Quanto à terminologia que se utiliza – abordamos que a questão de divisão dos músicos em “eruditos”, “populares”, “sertaneja”, “caipira” e tantas outras, via de regra vêm acompanhadas de um forte preconceito, que acabam se voltando para nós mesmos, quando pulverizam a categoria em panelas e bolsões de interesse. Foi muito enfatizado o papel que está tendo o FORUM PAULISTA PERMANENTE DE MÚSICA, ao unir os diversos segmentos da cultura musical brasileira, promovendo, na prática das discussões cotidianas, uma mistura de linguagens.

Achamos que não é pertinente criarmos um falso divisor de águas que, de um lado coloque a MÚSICA ERUDITA, trabalhada, elaborada e que exige muita formação e estudo do músico, e, de outro lado a MÚSICA POPULAR, que seria espontânea, com um grau de elaboração menor e menos exigente tecnicamente. Acontece que, na prática, tais conceitos vêm por água abaixo, pois nos deparamos com músicas regionais e tradições, que não apenas geram músicas e rituais ALTAMENTE ELABORADOS, como exigem uma técnica muito grande dos compositores e intérpretes e, além disso, exige que, em certos casos (transmissão de mestre pra discípulo) seja fruto da dedicação dos artistas por toda a sua vida, na apreensão e transmissão de conceitos muitas vezes centenários.



6. Mapeamento paulistano – levantamos a necessidade de um MAPEAMENTO CULTURAL PAULISTANO, no sentido de preservarmos tradições que tiveram bastante força e hoje se vêm ameaçadas, principalmente, por perderem espaços para os Bingos e Igrejas Evangélicas. Temos aí desde cinemas a espaços de forró ao vivo e casas de danças em periferia.





Grupo de Pesquisa e Patrimônio

SP, 25 de janeiro de 2005

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